Hoje fomos à aulinha de natação. Ela estava tão linda. Como sempre. É de se espantar que começou faz tão pouco tempo. Já é um peixinho.
Eu, como sempre também, estava com o celular a postos. Quantas fotos lindas tirei. Quantos vídeos. Vídeos batendo perninha, fazendo bolinha com a boca, mergulhando. A única coisa que não consegui foi o vídeo do pulo. Tão alto minha menina pulou e não consegui filmar. Deu até dor no coração. Perdi essa memória para sempre. A primeira vez foi puro deslize da minha parte. Sabe o que é, estava tão orgulhosa da minha menina que preciso às vezes transbordar para os outros. Aí percebi que além de mim do outro lado do vidro tinham os avós de um menininho que também tiravam fotos e vídeos. Falei tanto dela pra eles. Tenho muito orgulho dela. Falei sobre quando ela era bebezinha até agora, com seus três anos e meio. Contei tudo. Tudo o que dava pra contar naquele tempinho. Desde as noites mal dormidas no começo até os dias de escolinha e as viagens pra Disney. E aí, quando vi ela pulou mais alto que tudo. Quase morri. Pedi pro professor fazer mais uma vez. Não tinha cabimento eu não registrar aquele momento tão lindo. Só que na segunda eu sofri de excesso de empolgação. Não coloquei meu celular a postos na hora certa e eu devia saber que essa sucata não funcionaria no tempo certo. Ele travou. Que ódio. Queria ter esse momento pra mim pra sempre. A aula já estava quase acabando. Resolvi guardar meu celular, mas sempre esqueço que o maldito uniforme não tem bolsos e a minha velha cabeça nunca se lembra de trazer bolsa. Deixei ele ali meio de lado pra mostrar que não estava satisfeita com seu desempenho. E – por que não? – voltei a falar com os avós. Eles eram bonzinhos. E tinham tanta sorte. Um netinho lindo só deles. Tão gostoso de poder cuidar, ver crescer e amar pra sempre. Tão sortudos eles. Não precisavam nem de tantas fotos. Ele estaria sempre lá, mesmo quando a cabeça padecesse e apagasse algumas memórias. Eu não tinha o sempre. Meu sempre era o meu presente. A minha menina dando piruetas e eu registrando com a câmera. A minha pequena. Pra depois. Pra quando ela não fosse mais minha. Pra quando ela não se agarrasse mais em meus braços em busca de conforto. Pra quando esquecesse que um dia me amou. Pra quando ela tivesse grande o suficiente e não precisasse mais de mim. Os pais não precisassem mais. E eu fosse obrigada a partir em busca de novos meninos e meninas pra cuidar. Mas eu ia ter minha câmera. E ela viveria pra sempre lá dentro. Assim como no meu coração.
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